Programei falar dos Sacramentos da Igreja durante o mês de Julho e obedecendo a sequência lógica em que os vivenciamos, mas não cumprirei esta meta em razão de dois grandes momentos que se aproximam. Domingo próximo, dia 19 de junho, minha Paróquia será abençoada com a celebração da Crisma, dentre os que a receberão está minha afilhada linda, Anna Raquel. Para completar, no outro Domingo, dia 26 de Junho, meu filho mais novo receberá o sacramento do Batismo e, é claro, tocarei no assunto.
A forma que tenho de não quebrar a sequência que imaginei é escrever sobre os dois sacramentos sob uma ótica diferente da que usarei no momento em que apresentarei as propostas de encontros catequéticos. Assim, hoje e na próxima sexta-feira, os posts serão apenas pinceladas do tema, ok?
Então comecemos pela Crisma, ou melhor, o sacramento da Crisma ou da Confirmação (o Crisma, no masculino, é o óleo, mýron, unção).
Imagine que você recebeu, com três meses de antecedência, um convite para o aniversário de um grande amigo. Não qualquer aniversário, mas o aniversário de 21 anos! Uma data importante, representativa, que marca a passagem para a vida adulta, com suas benesses e dificuldades. Eis o batismo.
Imagine agora que faltando 15 dias para o grande evento, você receba um telefonema do organizador da festa perguntando se poderá confirmar a sua presença. Na mesma ocasião, ele lhe dirá que você é um convidado muito especial e que o aniversariante gostaria que você fizesse um discurso na hora dos parabéns. Eis a crisma.
Pelo batismo somos chamados, convidados a participar da vida da Igreja. Pela crisma, confirmamos nossa caminhada e nos envolvemos em definitivo com a comunidade. Diz o Catecismo da Igreja que, junto com o batismo e a eucaristia, a confirmação é um sacramento de iniciação cristã e seu recebimento é necessário para confirmar a graça batismal (1285[i]).
Podemos ainda dizer que a crisma é a maioridade civil do cristão. Após receber este sacramento, somos intimados a participar ativamente da Igreja, nos tornamos, em definitivo, protagonistas de transformação do mundo (homenagem ao meu compadre Manoel).
Vamos mais longe e afirmemos que:
O Concílio do Vaticano II nos desperta para uma tomada de consciência teológica, litúrgica, questionando o Povo de Deus sobre o significado da Confirmação para os batizados. Principalmente com a descoberta ao Cristão Leigo, ou melhor, sua redescoberta como apóstolo evangelizador insubstituível das realidades temporais, a importância do sacramento da Crisma destaca-se sobremaneira. (Ribólla, José. Os sacramentos trocados em miúdos. Aparecida, SP: Editora Santuário, 1990)
Assim, a unção recebida, o óleo marcado na fronte, é o selo do Espírito Santo (1295) e, tal qual o fazendeiro marca o gado, o Senhor marca os seus filhos, aqueles que estão sob sua proteção, envoltos em seus braços. Quem é marcado pelo crisma passa a ser propriedade de Deus (2 Cor , 21-22). Quer proprietário melhor?
Os frutos da Crisma são maravilhosos e nossas vidas nunca mais são as mesmas depois que recebemos este sacramento. Diz o Catecismo que a confirmação enraíza mais profundamente a filiação divina, une-nos mais solidamente a Cristo, aumenta em nós os dons do Espírito Santo, nos vincula mais perfeitamente com a Igreja e, ainda, dá-nos a força especial do Espírito para difundir e defender a fé pela palavra e pela ação, tornando-nos verdadeiras testemunhas de Cristo, para que jamais sintamos vergonha da cruz (1303).
Que sacramento magnífico, não? Pena que hoje em dia muitos têm se esquecido dele, o relegado a segundo plano. Já escutei até mesmo gente dizer que “crismar não é mais importante, pois já não se precisa do sacramento para casar”. Cristãos de meia tigela, ou melhor, de meia caminhada. É a crisma que nos fortalece, que nos enche do Espírito Santo e nos impulsiona ao caminhar firme rumo ao Reino dos céus!
Por tudo isso que escrevi, confesso que me sinto abençoada por ter sido escolhida três vezes para ser madrinha de Crisma. Meus três afilhados: Larissa, Felipe e, agora, Anna Raquel, me deram um grande presente ao me escolher como ajuda espiritual. Somos todos falhos e repletos de pecados, mas ser convidada a orar por estes jovens e pedir a Deus que guie seus caminhos é uma alegria! Ao contrário do batismo, onde tradicionalmente os pais escolhem os padrinhos, na Confirmação são os próprios jovens que o fazem, isso quer dizer que, ao menos por três vezes, fui digna de ser exemplo, que bom!
Pra terminar, aos meus afilhados, e em especial, à Anninha que receberá o sacramento no Domingo, faço minhas as palavras de Santo Ambrósio:
Lembra-te, portanto, de que recebestes o sinal espiritual, o Espírito de sabedoria e de inteligência, o Espírito de conselho e força, o Espírito de conhecimento e de piedade, o Espírito do santo temor, e conserva o que recebeste. Deus Pai te marcou com seu sinal, Cristo Senhor te confirmou e colocou em teu coração o penhor do Espírito.
Felizes os que recebem o Espírito e o transmitem! Não guarde a graça só para si, multiplique-a!
E você, leitor, faz bom uso do seu sacramento?
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