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sexta-feira, 3 de junho de 2011

Catequista pelo exemplo

Hoje, aos 103 (ou 102, a família se divide) anos, morreu a minha bisavó, Americalinda Pinto. Desde que me entendo por gente, ela sempre foi a velhinha ao estilo d. Benta, cabelo grisalho (nunca ficaram totalmente brancos), sentada na cadeira de balanço, mirando a paisagem.

Pouco conversei com ela. A diferença de idade e de temperamento sempre nos distanciou. Ela, austera, não gostava de bagunça, eu, moleca, era só o que sabia fazer. Sempre pelos cantos da casa, sua figura me era enigmática, para não dizer um tanto antipática, afinal, pouco falava, pouco sorria.

Mas uma coisa sempre me chamou a atenção, a velha Caína (apelido familiar), sempre estava com um terço nas mãos. Baixinho, recitava inúmeras vezes ao dia a oração do povo.

Como eu não tinha criação católica, aquilo me intrigava, gerava uma certa curiosidade. Diziam-na carola, mesmo irritante em sua fé. Neste aspecto, contavam sobre inúmeras promessas, algumas que ela fazia para outras pessoas pagarem.

E foi assim, sem muito falar, que a bisa se tornou, mesmo sem saber, uma grande catequista na minha vida.

Quando decidi pela fé Católica e, sozinha, freqüentava a Igreja, eu trazia na lembrança a fé, também solitária, daquela velhinha.

Quando de férias na praia, eu fazia uma parada estratégica aos Domingos na Missa, ou ia caminhando até a Igreja Matriz para celebrar o Natal e o Ano Novo, eu recordava daquela senhorinha que não conseguiu transmitir sua religiosidade aos filhos.

Quando o terço me dava sono ou preguiça, era a persistência de seus murmúrios silenciosos que me lembravam a necessidade de insistir na oração.

Hoje, um pouco mais madura na fé, olho para trás e vejo como d. Americalinda, do seu jeito cheinho de defeitos, conseguiu catequizar uma bisneta, conseguiu plantar, ao menos, a curiosidade por este sentimento tão maravilhoso: a fé.

E fica a oração, o pedido para que eu possa, enquanto esposa, mãe, filha, irmã, catequista, amiga, profissional, ser também essa pequena semente que gera um traço de interesse sobre as coisas de Deus. Isto bastaria. Isto bastou para minha bisa.

Um comentário:

  1. Levamos um pouco de cada um, não é? E mesmo quando parece que algumas pessoas não interferem em nossas vidas, alguma coisa elas plantam em nós.
    O que sua vó plantou em você, mesmo sem querer ou perceber, brotou e já está aí colhendo frutos.
    Que ela continue em suas lembranças (e de toda sua família) trazendo exemplo de vida e de muher/mãe/avó/catequista. Isso é o que fica.
    Deus os abençôe e os guarde.
    Beijos

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